domingo, 26 de fevereiro de 2012

fingifugir

não vou mais fingir
correr atraz daquilo que realmente não estou certo
certo de que quero
se for pra vir que venha pelas proprias pernas

não vou mais fugir
fugir de minha realidade obscura
daquela que me insiste em atormentar
que insiste em permanecer

não vou mais fingir
fingir que nada acontece
que o mundo não gira
que as pessoas não se vão
que não sigo meu caminho

não vou mais fugir
fugir da minha propria tragetória
daquilo que está colado em mim
das presenças que me fazem sorrir
do que me faz permanecer

não vou mais fingir
que a sua ausencia me faz entristecer
que em sua busca não quero seguir
que não fico mal quando não está aqui

não vou mais fugir
fugir de mim mesmo
das minhas aspirações
dos meus enlaces
dos meus impaces

não vou mais fingir fugir
passar por artista
representando algo que não ocorre
pra que todos pensem que fui para a direita
enquanto o que realmente ocorre
é uma corrida para dentro

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

louco



Dizem que sou louco
por não saber tratar as pessoas
Mas são vocês que me acorrentam nessa cama.

Dizem que sou louco
por não controlar minhas emoções.
Mas vocês nem sequer conseguem dizer
"eu te amo".

Dizem que sou louco
por não ter um comportamento social.
Mas vocês não sabem nem dizer obrigado.

Dizem que sou louco
por conversar com as paredes.
Mas vocês não sabem reconhecer uma boa conversa.

Dizem que sou louco
por agir como um animal.
Mas vocês não medem esforços em passar por cima dos outros.

Dizem que sou louco
por agir como um louco.
Acho então que sou realmente louco.
Louco por assumir minha insanidade.
O que vocês vivem lutando para negar.
Negar que são tão loucos quanto eu.
Disfarçando que sabem viver.
Viver como "normais".
Mas normal é ser louco.
E vocês meus caros.
Não são menos que eu.
Apenas se convenceram que só eu,
que deveria ser.

LK2



Como pingos de chuva,
que rompem os céus,
para se tornar uma simples enxurrada,
me torno só mais um em meio a multidão.

Como abelha na colméia
continuo aqui realizando meu trabalho.
A vida continua...
Como sopro no vendaval,
sigo meu caminho sem destino certo.

Sigo buscando estímulos e afetos
que me levem a navegar por mares nebulosos.
O improvável, o indomável à diante
torna cada passo mais interessante.

Cada traço, cada trajeto, cada afeto
me transformam no que sou.
Quem não sou.

Sempre, sempre percorrendo.
No sobe e desce dessas ondas,
me coloco feito equilibrista
sempre ativo,
por muito otimista.

Guiado pelas estrelas.
Corrompido pela beleza.
Marcado pela sutiliza.

Num mar de estrelas
meu barco a flutuar,
em meu peito fez marcar.

verdes

é um temor imenso
lidar com meus demônios
despertar aquele ser de olhos verdes
impregnado em minha memória
ela que por muito tempo
fez parte de meus sonhos e tempestades
me fazia delilar de sanidade
abandonar a maldade
soluçava poesia
bebia palavras doces
com uma voz sublime
quase sempre rouca
embalava meus sonhos
e cultivava minha admiração
aqueles olhos verdes
que me deixavam vidrado
em suspensão
num flutuar incessante
permanente
verdes que pareciam conversar comigo
diziam coisas lúdicas
sem qualquer sentido
mas me faziam parar
parar e contemplar
prendiam minha total atenção
sem me deixar piscar
pra não perder qualquer instante
aqueles olhos verdes
que me faziam lutar todas as noites
lutar com minha maluquice
lutar com minha maturidade
lutar com minha integridade
um dispertar muito intrigante
essa lembrança permanente
que por vezes se faz latente
resurge como nunca
e acaba com minha realidade

sábado, 18 de fevereiro de 2012

vermelhos



São seus olhos, naquela noite escura
Vermelhos, vermelhos de nossa angústia
Vermelhos eram seus sapatos
Saltos altos que te levaram de mim
Aqueles que fizeram me apaixonar por ti,
lhe colocando aqui dentro
Hoje te levam embora
te levam pra nunca mais
Vermelhos que um dia já foi desejo
hoje, hoje não passam de uma desilusão
Como queria nunca ter visto,
ter visto aqueles olhos vermelhos...
os saltos vermelhos...
Vermelhos de despedida
Vermelhos de adeus
Vermelhos de desejo
Vermelhos de nossa paixão
Vermelhos de nós dois
Vermelhos de solidão...
Fiquei sozinho com meus vermelhos
vermelhos olhos meus
Lágrimas de choro e solidão
Vermelhos
Lembranças
Vermelhas lembranças
Vermelhos que nunca mais quero vê-los
Vermelhos... vermelhos...

dragão



habita o imaginário humano
causa temor e admiração
por toda a história se fez presente
magia e mistério
ali cravado em nossas mentes
um ser ilusório
poderozo e inexistente

alado, rastejante
cheio de escamas
cospidor de fogo
dono de lendas

cheio de inimigos
cheio de devotos
único ser do horóscopo
que não se faz presente na realidade
realidade...

para ser real não falta muito
este mistério
este temor
o poder
presente em nós
todos temos um dentro de nós

poderosos,
místicos,
misteriósos,
inexistentes.

vem


Estou aqui parado em frente à porta.
Parado de braços abertos.
Te esperando...

Te esperando vem,
vem pra matar esta saudade
que meu peito habita.
Vem pra me completar.
Vem pra me tornar melhor.
Vem pra mim.

Tudo aqui é estático.
Tudo aqui é programado.
Tudo aqui está tão quadrado.

Vem que eu te espero.
Te quero.

Vem querbrar a minha vida.
Vem pra me desmoronar.
Vem me namorar.

Vem só pra ficar aqui.
Sem fazer nada,
que seja.
Mas vem.

Vem que você está fazendo falta.
Vem pra nunca mais,
pra nunca mais partir.
Vem pra mim.
Vem sem medo.
Vem...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

aposta

Seguindo a vida cotidiana.
Trabalhando, estudando, viajando...
Passando por uma praça.
Praça pública.
A vejo tomando sorvete.
É tarde num dia típico de verão,
dia quente, abafado,
o suor escorre em minha testa.
Vejo ela ali sentada,
com sua taça de sorvete,
numa mesinha da sorveteria,
disposta ali na praça.
Está calor,
o sorvete derrete.
Derrete e deslisa sobre os lábios da morena.
Foi o bastante para aumentar o interesse.
Ela está ali sentada,
com sua bolsa e alguns livros,
provavelmente uma pausa num dia quente.
Está decidido!
Entro na sorveteria.
Uma taça... duas bolas.
Duas que é pra ela não pensar que como demais.
Está quente... limão e maracujá.
Cobertura?
Sem cobertura.
Me sento em frente à mesa dela.
Tenho pouco tempo.
Já está acabando seu sorvete.
Tento descobrir qual livro está lendo.
Não consigo.
Penso em possibilidades de assunto.
É claro!
O calor!
Clichê.
Bom...
Penso no sorvete então.
Qual sabor ela gosta?
O tempo se incurtece.
Trocamos olhares...
Nesta hora decido se aposto.
Se aposto todo o meu flerte,
e chego nela.
Com o risco de perder.
De perder todas as espectativas,
todos os sonhos que sonhei até agora.
Devo arriscar?
Ao menos o telefone...
ou o e-mail quem sabe...

-Com licença?
-Por acaso você se chama Ana?
-Não?
-Se parece muito com uma amiga minha Ana...
-Na verdade Ana se sentava na primeira carteira da sala e nunca conversou comigo.
-Mas foi o que me veio à cabeça.
-Qual é o seu nome?
-Muito bonito...
-Prazer em conhecer.
-Será que poderíamos sair qualquer dia desses?
-Nos conhecer?

Neste instante ela me deu seu telefone.
Me deu um beijo no rosto,
pagou a conta e se foi.
Na mesma noite liguei pra ela.
...número inexistente.
Inesistente?
Será que tudo aquilo inexistiu?
Foi uma aposta.
Aposta que ganhei.
Ganhei e quando fui retirar o prêmio...
o bilhete estava errado.
É o risco que se corre.
É uma aposta.
Fui mais três vezes na sorveteria.
Nunca mais a vi.
quem sabe outro dia,
quem sabe outro número,
quem sabe outro flerte,
quem sabe outra aposta...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

cabelos




quando ela passa deixa seus cabelos
seus cabelos a balançar ao vento
seus cabelos cacheados,
lisos ou ondulados.
seus cabelos.

seus cabelos curtos,
longos, rebeldes.
seus cabelos.

são loiros, ruivos,
pretos ou castanhos.
seus cabelos.

seus cabelos atiçam olhares,
seus cabelos causam inveja,
seus cabelos fazem sonhar.
seus cabelos.

fico pensando em acariciar,
seus cabelos.
fico sonhando em me pendurar,
em seus cabelos.
quero me debruçar,
em seus cabelos.

este balançar de seus cabelos
ah como adoro vê-lo
como queria prendê-los
sobre meus desejos.
seus cabelos.

o vento a bagunçar,
seus cabelos.
os homens a admiriar,
seus cabelos.
eu a sonhar com...
seus cabelos.





quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

braseiro



Adentrei na sala.
A vi sentada no lugar de costume.
Seus pés descalços,
como quem não tem com o que se preocupar.

Estava lendo,
em silêncio como faz costumeiramente.
Seus lindos cabelos louros cobriam seu rosto.
Imprimindo naquele instante um certo ar de mistério.
Já sabia como seu rosto era belo,
por tê-lo visto anteriormente.
Mas todo poeta deseja vislumbrar a face de sua musa novamente.

Seu fino pescoço debruçado sobre o tronco
atiçava qualquer vampiro que não houvesse.

Depois de alguns instantes,
como o raio de sol que desperta a manhã
jogou delicadamente seus cabelos para traz,
revelando mais uma vez seu lindo rosto.
Continuei ali esperando o próximo movimento.

Virou-se em minha direção,
e como quem lança alcool num braseiro...
sorriu para mim.
Estasiado com a cena me vi a observá-la indiscriminadamente.
Imaginando mil imagens.

Ignorando aquele mágico momento,
ela voltou para seu livro
e eu para minha contemplação.
Aguardando o próximo bonde.

menina

 



ah menina
menina tu não sabe como me judia
me coloca em agonia
me faz sentir que poderia

poderia ter o mundo
poderia ser o mundo
estaria em tudo
e tudo seria nosso

ah menina
menina tu não sabe como me fascina
com teu olhar me ilumina
só pensar me arrepia

poderia ter a vida
poderia ser a vida
estaria ali presente
e tudo seria nosso

ah menina
tu não sabe como me domina
se fazendo minha sina
em tudo o que nos combina

poderia ter o amor
poderia ser o amor
estaria com você
e tudo seria nosso

ah menina
menina tu não sabe minha doutrina
de te olhar quando caminha
espiando pela esquina

poderia ter você
poderia ser você
estaria a seu lado
e tudo seria nosso

ah menina
menina que me levou
num instante me deixou
e nem sequer me provou

poderia ter a mim
poderia ser a mim
estariamos juntos
e tudo seria nosso

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

controle

Ei você não faça isso!
Aquele outro texto me parece bem mais apetitoso!
Seja coerente faça o que é melhor!
E eu lhe digo:
" - dirija-se ao texto ao lado!"

Percebe como sempre queremos controlar tudo.
Controlar tudo e todos.
Queremos que os outros façam o que pensamos ser melhor.
Sempre queremos controlar os outros e nós mesmos,
porque não.

Domamos os animais,
cultivamos as plantas que queremos,
controlamos nosso tempo,
manipulamos as pessoas...
até a natureza tentamos controlar.
Acho que vai chover amanhã!

Temos essa mania de controle.
Quando percebemos que não controlamos nada,
nem sequer nós mesmos...
caímos do cavalo.
Cavalo que não conseguimos domar.

Mesmo sabendo que não podemos controlar nada.
Seguimos tentando, como uma utopia.
Veja eu mesmo.
tento lhe controlar caro leitor,
para que siga lendo minhas baboseiras.
Tento reproduzir o que gostaria de ler...
ou o que odiaria ler...
mas sempre tentando lhe prender aqui
no meu texto.

Será que a obsessão por controle
é inevitavelmente humana
da mente humana?
Não sei.
Mas há um prazer em pensar ter controle.
Parece que somos donos do poder.
Somos aqueles que possuem o dom.
Isso é instigante.
E frustrante quando descubrimos a verdade.
Tudo está sob nosso controle,
mas não possuimos o controle de nada.

enigmático

Caminho sem saber o que sou,
sem saber para onde vou,
para que estou.

Às vezes fico meio assim estático
o que não há nada mais prático,
porém por muito tempo se torna dramático
prefiro ser assim... enigmático.

Enigmático por ter algo a descobrir
alguns paradigmas a abolir,
perder o medo de ir,
sempre pensar que nada irá me impedir.

Não sei se por falta de inteligência,
ou por não ter suficiente paciência,
faço do "eu enigma" minha essência.

números

Estão dizendo por ai que somos números.
Já fui uma vez o 54.
Não sei se eu era ele,
ou ele que era eu.
O que importa é que de alguma forma
sempre serei eu.

Dizem que somos números pro governo,
números pros bancos,
números pro ibope,
números pros números.

Se fosse um número
seria algo que não sou
62358998-7 não sou eu
nem meu CPF...

Posso ser mais 1
junto à milhares
eu seria então milhares e um
Eu milhares e um lhe desejo sorte
senhor 200 milhões.

Ao senhor número 99 da fila de espera
digo que por um o número 100,
que não foi 1 pouco melhor que você,
não lhe rouba a vaga.
Mesmo assim não deverá agradecer somente ao número 100
que não foi melhor que você
agradeça aos 99 que desistiram.

Os 99 que não é você
são os outros
outros números

Olha senhor número 99
99 da lista de espera
que preencheria a ultima vaga
sinto dizer mas...
um dígito lhe impede de preencher a vaga
um dígito em você é incompatível.
E por isso senhor 99 não está apto.
você é 224592
e queríamos alguém que fosse
2245691
você não é completo...
faltaram-lhe qualidades...
1 número.