quinta-feira, 31 de março de 2016

flores

quando eu lhe trouxer flores
por machismo ou ironia do destino
quando eu lhe presentear com segundas intenções
receba meu afeto
pois assaltei mil jardins
para lhe encontrar
a flor mais bela

quando eu lhe trouxer flores
embrulhadas, frescas ou amanhecidas
saiba que lhe trago o possível
no impossível acaso de pronuncias
lhe trago algo palpável
para lhe apresentar
todo o emaranhado de insanidades
que me borbulham no peito

quando eu lhe trouxer flores
peço que coloque uma nos seus cabelos
pois sabes bem
que seus cabelos...

quando eu lhe trouxer flores
rosas, margaridas ou girassóis
saiba que nenhuma delas
pode perfumar meus ideais
como nosso encontro

quando eu lhe trouxer flores
trarei também todo de mim
toda minha abertura de ser
todas as pétalas do arco-íris
para lhe entregar em buquê

quando eu lhe trouxer flores
aceite ou rejeite
mas acima de tudo
olhe nos meus olhos por mais cinco segundos
pois assim poderei carregar a imagem
a imagem da mais bela flor que já vivi
o jardim mais belo
a vastidão do seu olhar

sábado, 26 de março de 2016

suor


tentei guardar o vento
cata-vento
queria sentir o frescor
queria a eternidade
mas o vento
o vento...

não há inspiração
não surgem os versos
como chuva imprevisível
tempestades em céu azul

as ruas ainda vazias
madrugada fria
o sol nascente
um copo de cerveja

algo que vive dentro
que tem seu próprio pensamento
nas vibrações
agitações
o corpo canta
letrados resgatam
os versos que correm nas sarjetas

quando o corpo transpira
os poemas escorrem pela testa
não controlamos nada
o vento necessário
ventilador intergalático

trocamos ideias
por signos ascendentes
tragédias por amores platônicos
realidade por carimbos no pulso

o vento
cavalo selvagem
é belo
é paraíso
por ser selvagem
domesticá-lo
é botar água no vinho

quarta-feira, 23 de março de 2016

afrodite


veio com o vento
que sopra sem cessar
veio me trazer
algo a me inspirar

veio na tarde quente
clara como a luz do sol
sublime como a luz da lua
misteriosa como a noite

os cabelos negros
o sol em escorpião
alma de musa
jeito de menina

embaralhou meus pensamentos
volantes pensamentos
se dirigiram feito bússola
confusa e atormentada
apontaram para o céu

recuei por saber
que a musa construida
era a mais bela das coisas
sabia que Afrodite
somente és bela
nos quadros ainda não pintados

pezinho

 
tens um sorriso lindo
os olhos grandiosos
os lábios felinos

mas seus pés
seus pés
são verdadeiros oásis
oásis de perdição

pequeninos
graciosos
e delicados

quero que saibas
que aos teus pés 
aos teus pés menina
tens o mundo
e a mim também

pegasus


não bote a boca em minhas palavras
deixe que eu diga
que eu pense
não seja injusta
deixe-me flutuar

tu me calas
me celas

no galopar de Pegasus
com lábios enfurecidos 
me impediu de voar

com o beijo em meu beijo
as mãos em meu pescoço
um cabresto em meus sonhos
lançou-me em postagens ilusórias

colocou beijo em minhas histórias
calou minhas palavras em seus lábios
as línguas mudas
remexeram ideias ainda não pensadas

domou a lenda
dominou o mágico
corrompeu o mistério