domingo, 29 de abril de 2012

escuridão

O negro céu encobre o prédio
se coloca sobre tudo e sobre todos
pleno
explendoroso
e nesta escuridão se faz feiches de luz
alguns pontos luminosos
pontos de lágrimas
em noites sem luar me restam as estrelas
as luzes da cidade não são suficientes
para iluminar minh'alma
preciso dos céus para me conhecer
é lá distante de mim
que me encontro em fim
quase inquieto
incorreto
as estrelas acima do negro céu
se tornam parte da minha tragetória
ligada umas as outras
por palavras dispersas
as estrelas me conhecem pelo nome
coloco cada uma delas no bolso
feito mágica
trancafio a mim mesmo
prisioneiro de mim
num bolso em minha mente
companheiro de sela das estrelas
confinado com toda luz
que se faz mistério
lá no negro céu
céu do fundo de um bolso
calabolso de espectativas
reflito a luz das estrelas
me contento a me ofuscar com a luz
sem me libertar
sem tornar publicas
minhas amigas estrelas
preso num banco
observando a noite negra de estrelas.

contemplário


Há momentos de parada
às vezes paro e observo
ali respiro fundo
me abro para o que se tem
a natureza
a cotidianidade
os carros
as nuvens...
apenas um espectador
observador deste mundo
platéia de um show único
de olhos abertos
mente vazia
sem julgamentos
me coloco a contemplar
alguns segundos
minutos
momentos
um inseto
em seu trabalho.
o vapor das roupas no varal.
as folhas a sacudir com o vento.
a leveza de uma pipa.
coisas mágicas,
únicas,
indescritiveis
e eu a observar,
a sentir
um contemplário
os cabelos da morena
que por mim passa.
os olhos da criança
repletos de curiosidade.
o som dos pingos da chuva
sobre o telhado de barro.
a bleza dos olhos de quem vê,
eu a vejo
um contemplário.

pés


é estranho
um gosto diferente
comum para alguns
passo meus dias a observá-los
admirá-los
estudá-los
dois pequeninos e delicados
um par de sementes
semente de sonhos
sonhos e desejos
tens os pés graciosamente projetados
cinco dedos para cada um
uma curvinha em cada planta
curva que dá forma e delicadeza
leveza
quando os estendem 
como bailarina
tens toda sensualidade do universo

como se não bastasse
teima em adorná-los
pinta as unhas
os cobre com sapatos
sandálias
chinelinhos
devo lhe dizer
francamente os prefiro nus
sobre o chão de terra molhada
no sofá nos domingos à tarde
em meu lençol nas noites de lua
não canso de admirar
este par de desalento
quando somem fico em tormento
conto os dias para revê-los
peço a você
guardiã dos meus...
que na verdade são bem seus
que proteja os sonhos meus
e me deixe contemplar
por mais um tempo
este seu maravilhoso par

domingo, 1 de abril de 2012

viagem



lhe convido para uma viagem
uma viagem para dentro
para dentro de si
e para fora
num passeio para além dos montes
por trás dos horizontes
não precisa de bagagens
ou de check-in
lhe convido para uma volta
uma volta em torno
e para dentro
dentro de si
fora de si
algo que está em ti
e que não pode ser tocado
tocado se estiver em si
é preciso sair
sair sem se deixar
deixar sem se desprender
desprender sem deixar cair
vá pelos seus passos
acompanhe a minha vóz
caminhe por lugares em que
somente seus pés
e somente eles
poderão trilhar
vá e descubra-se
deixe se desvendar
mas não se descubra por inteiro
sei que não poderia
mas deixe um pouco para mais tarde
para uma proxima viagem
um proximo convite...
quem sabe para além de si
para um transcender
para um ascender
um prorrogar-se.

despedida?

A vida segue caminhos inexplicáveis
às vezes nos afasta
outras nos aproxima
e assim a vida passa
A imagem dos seus olhos
e seu sorriso
ficarão para sempre em minha lembrança
seu perfume está cravado em minha memoria
quem sabe numa destas curvas da vida
agente se encontre novamente
quem sabe não
quem sabe...

mulher



A paz em sua voz
A doçura em seu olhar
Meu desejo em seus lábios
O calor em seu corpo
Minha pulsão em suas pernas
O abrigo em seu colo
A enlouquencia em sua cintura
Minha filia em seus pés
Excitante
Contingente
Que me faz delirar

homem

um homem sem destino
sem promessas
sem ilusões
a pensar
a vagar
a devanear
relapso
complexo
estranho
maldito
bendito
corrompido
louco
coerente
volúvel
odioso
amável
desastroso
contemplador
amante
comum
coerente
respondente
tempestade
qualquer um
único
indescritivel
indecifravel
incompreencível
intoleravel
abominavel
antigo
novo
sereno
qualquer coisa
mas sempre homem
homem enquanto ser
ser existente
ser.

decisão

Pé direito?
esquerdo?
quente?
frio?
avanço?
permaneço?
retrocedo?
?
quero transformar
a interrogação
?
numa afirmação
uma decisão
um ponto final
.
mesmo certo
aida incorreto
incerto
mas decidido
um pulso
avante
permanente
faço
mesmo não fazendo
decido
não decidir
prolongo
adio
decido ir
e como o tempo
passo
novas decisões
incompleto
pleno
decidido
controverso
hipotético
desafirmativo
incoerente
decidido.

azuis



Já tinha tudo em mim
meus pensamentos estavam
onde deveriam estar
um momento
como outro qualquer
deixou de ser
de ser um qualquer
para se tornar inconfundivel
aqueles olhos tocaram minh'alma
se aprofundaram em mim
bateram lá dentro derrubando tudo
desmoronando tudo
aquele par de olhos
olhando fixamente nos meus
estremeceram meu mundo
me puseram em dúvida
me fizeram questionar a beleza
a beleza do mais lindo azul que já vi
o azul dos céus de minha cidade
o azul das nove
das nove horas da manhã
num dia ensolarado de inverno
um céu sem nuvens
o azul mais belo
que sempre tenho a oportunidade
a possibilidade de contemplar
aquele azul intocável dos céus
da cidade de Rio Claro
este azul
azul se fez pálido em minha lembrança
no momento que os olhos daquela moça
se mostraram aos meus
aquela loira de olhos azuis
de rosto angelical
ficou marcada em minha memória
feito traço de caneta
na superfície de papel
daquelas marcas
que mesmo que se tente apagar
pintando com tinta branca
ainda permanece presente
aqueles olhos me trouxeram à tona
num instante me levaram
e como a palpebra que faz a escuridão
num piscar de olhos se foi
a meiguice daqueles passos
tornaram aquele azul
azul daqueles olhos
apenas parte integrante da minha lembrança
deixando meu presente
habitando meu passado
esperando um reencontro no futuro
quem sabe breve...

sono

noite quente de verão
dia de trabalho intenso
daqueles que o calor nos deixa
mais cansado que o de costume
um copo d'água
o ventilador de teto range
o suor encharca o travesseiro
e na madrugada
o sono me pega pelas mãos
me conduz sonho a dentro
me aprofundando em minhas ilusões
um mundo somente meu
intocado
tendo toda liberdade do meu mundo
condenado a me prender a ele
o sono me flutua
o sono me põe no chão
o sono...