domingo, 27 de abril de 2014

investida

seu caminhar de pluma ao vento
um desejo em recalque
um sublime suspiro
dois passageiros na bicicleta

três rosas no jardim
um milhão de sonhos no bolso
minhas mãos em seu quadril
suas mãos em meu pescoço
e nossos pés no céu

sob a canção da brisa
com as bênçãos das nuvens
juramos não jurar
tudo estava naqueles olhos de gata
toda a promessa não cumprida
todos sonhos não vividos

dois estranhos no banco da praça
estranhos a conversar por horas
conversas estranhas
corpos, mentes e comportamentos
dois abstratos filosofando...

as folhas ainda caem no chão forrado
as palavras já se sessam
e os olhos já cansados
desejam se refazer
uma imensidão de desejos 
percorrem minha barriga

o fim da noite se aproxima
tento deixar a porta aberta
para quem sabe voltar a visitá-la

seus lábios deixam o recinto
a saudade
ainda habita o lúdico

ela se vai
e consigo leva a esperança 
de noite mais prolongada
deixa o gosto de novidade
a vontade de ter mais
deixa também
a promessa de uma próxima
uma próxima investida

cumplicidade

me faltou aquele sorriso
aquele meio sorriso que era o sol
aquele sem dizer
que dizia todo o resto

não havia nada
apenas aquele olhar
e dizia tudo
tudo o que precisava saber
nada mais

ela sem dizer me revelou
me revelou o que queria
e o que queria era eu

eu morava nos pensamentos dela
e ela nos meus
eu achei que pensava sozinho
mas quando pensava, era ela
ela que comandava meu pensar
e eu o dela

ela me deixou 
e eu deixei ela
para provar que somos dois
e que nossas conversas
nossa sintonia
só poderia funcionar
por que haviam dois
dois separados
separados mas em um único sonho
uma projeção
uma simples projeção no outro

amava meu reflexo nela
e acho que ela gostava
do dela em mim
mas o tempo
o tempo naufragou nosso explendor
e numa noite escura
não mais encontramos um no outro
e então nos separamos
pois havia proximidade demais
tivemos que nos descolar
para que fosse possível
que fosse possível nos amar a dois
e não um...