domingo, 25 de novembro de 2012

momentos

ela fecha os olhos para sentir o vento
sentir o vento remexendo seus cabelos
num instante se entrega para aquilo que não vê
passa a mão pela nuca...
reclina seu pescoço para tras
morde os lábios inferiores
quem sabe o que ela pensa?
será que há espaço para o pensamento?
ou será que ela apenas sente?

seus cabelos ganham vida própria
tornam-se calda de cometa
estrela cadente
mas ainda é tarde
tarde quente de verão
ela ainda sente o vento
ainda escuta a música da natureza
ela ainda pode desfrutar de alguns momentos
momentos particulares
íntimos
em uma plenitude descompromissada
sem ensaios

ela se despede de seu objeto de desejo
se despede da tarde
abraça a noite
a lua cheia
mas agora vai ao encontro do comum
segue sua mesmice
sem notar o valor daquele instante
instante agora passado
segue sua vida cotidiana

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

onírica



 


nesta noite elaborei um sonho
um sonho lindo, mas passageiro
o despertar interrompeu a eternidade
a minha felicidade estava ali
meus olhos fechados
a cabeça sobre o travesseiro
e meus pensamentos...
meus pensamentos nas maravilhas
um fantástico mundo
uma eternidade sem começo nem fim
quero lhe dizer
que neste mundo de coisas lindas
de coisas minhas
você estava lá
toda onírica
aconchegada em meus braços
num verde gramado
à sombra de um flamboiã
toda paz
toda beleza
você em meus braços
seus cabelos sobre meu peito
minhas mãos acariciando sua barriga
seu rosto colado no meu
nenhuma palavra
apenas nossas almas e aquele momento
um abraço forte
um beijo em seu pescoço
um sussuro ao pé do seu ouvido
mesmo sendo eu dizendo
mesmo sendo eu o compositor
elaborador
não pude ouvir o que eu mesmo disse
quem sabe algo que aqui
aqui na realidade
deveria lhe dizer pessoalmente
naquela paz
naquele momento
de contemplação do que está
meu abraço em torno do seu
suas costas em meu coração
seu rosto emparelhado ao meu
nossos olhos fehados
o som do vento nas folhas pequeninas
daquela grande árvore
as flores precipitando
com total destreza divina
aquele momento puro
despertei como um louco renegado
e agora acordado
lembrando do sonho
da onírica
do afeto
da paz
dos cabelos
do rosto
e de nossos corações

passatempo


 


estou matando meu tempo
matando a mim mesmo
numa fulga deste mundo
me prevaleço no invisível
não estou concreto
não sou mais correto

estou fugindo de mim mesmo
me disfarço
crio máscaras
mas há em mim
algo de mim mesmo

a cada instante me faleço
a todo momento me refaço
me coloco entre parênteses
às vezes
em fotografias
me congelo
em imagem

crio marcas na areia
vom em busca do sol poente
caminhando para a morte
mais um dia eu encerro

já morri inúmeras vezes
já persegui muitos sonhos
desisti de muitos deles
conquistei outros tantos

estou matando o tempo
mas o tempo nunca morre

sábado, 3 de novembro de 2012

estelares


naquela noite clara de angústia
seus olhos brilharam em minha direção
como faróis que guiam os náufragos
os mares de labirintos
se tornaram tapetes luminosos
toda a incerteza
toda negação de mim mesmo
modificou prontamente
a abundância de pensamentos
a nova vida
se tornou tão clara como um dia de verão
se tornou real
aquele olhar olhando o meu
que antes via nada
aquele olhar
agora atravessa minha alma penosa
meus olhos vislumbram sua face
face da nova possibilidade
me impõe um prosseguir
um encontro comigo mesmo
seus olhos me foram a saída
um momento em que perdido
em que me afundava no que não estava
seus olhos estelares
ocultaram toda minha impossibilidade
me trouxeram a terra firme
me flutuaram no mais denso ar
me suspenderam em pensamentos
seus olhos estelares
me apontaram a direção
me guiaram em meio a escuridão
seus olhos estelares

observador

 

o rosto dela se debruça sobre o livro
o vento movimenta seus cabelos
num balançar instigante
se concentra em seu instante
suas costas devidamente eretas
em postura possivelmente correta
sucumbe meus desejos
o vento que sopra o movimento
o dançar de seus cabelos
é o mesmo vento
que acolhe meus olhos solitários
como uma mágica
a vida se confunde com um todo
um bocejar
a chuva noite adentro
se condençam em um único momento
a morena sentada à mesa
a franja a balançar com o vento
as páginas de seu livro arredio
seu rosto, meu arrepio
o sono a atinge
seus instantes se tornam mais leves
a sua beleza
torna meus instantes mais concretos
ela ainda está lá
sentada, atenta
nem percebe que alguém a observa
que alguém a contempla
a vigia
a decifra
seus passos tiram ela de mim
se vai sem se despedir
sem um aceno
sem um olhar
me deixa só
sem o que vislumbrar
sem o que escrever
sem o que pensar
sem chances
sem romances
apenas com um poema.

reminiscência

 


você ainda surge em meus sonhos
você se foi
mas é só fechar os meus olhos
que entro em devaneios
nos momentos em que estou fora de mim
te encontro em meus trajetos
a cada passo descompassado
cada caminho errado
você está lá
entre todas as outras
entre tantas possibilidades
você ainda está em mim
você ainda está aqui

já fugi de tantos lugares
evitei tantos pensamentos
coroei tantos devaneios
coloquei em xeque meus próprios ideais
mas você ressurge como cólera

meus suspiros no meio da noite
meus pesadelos acordado
ainda fujo da sua lembrança
tento abandonar parte de mim
e quando penso que existe uma superação
seus olhos me puxam novamente
volto a reafirmar o que quero negar
desejar o que quero negligenciar
você renasce dentro de mim