domingo, 27 de outubro de 2013

controverso

aquele silêncio ensurdecedor
que estremeceu os ares
confundiu meu pensamento
tão bem desorganizado

aquelas mãos acolhedoras
me expulsaram de mim
queria estar ali
mas fugi por um instante

inflei os pulmões
para ficar sem ar
disse adeus à vida
para poder viver

dei sentido ao meu caminho
desorientado sem destino
decolei com asas fechadas
caí sem estar no alto

escrevi um verso
sem palavras
gritando calado
o aparente não está

flúida

e quando estava olhando
não estava vendo
e quando se fez provar
não deixou tocar
quando ia aparecer
correu pra se esconder
ia falar o que sente
se fechou estritamente
quando ia se expor
provou do dissabor
quando ia se jogar
firmada queria estar
ia trocar as vestes
como se nua estivesse
pensou em voar
mas no chão queria estar
pensou em até morrer
viu seu corpo estremecer
quando ia falecer
viu que antes precisava nascer

espetáculo

estive fora eu sei
e lá foi bom
foi bom?

fiz de você meu espelho
me fiz para você, não eu
um não eu
não eu?

aqui dentro é dor
o que você vê é calor
tudo aqui está pra fora
e o meu encontro
meu encontro
não encontro

aqui dentro não há nada
nada de espetáculo
e o prazer
o prazer
está lá fora
guardado num outro como eu

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

cheiro

quero tê-la
quero vê-la
mas não assim
não assim moldurada

assim não há toque
não há corpo
não há nada

quero sentir o cheiro
de pecado
de suor
de desejo
dos cabelos

quero sentir o gosto
dos lábios
da pele
do gozo

quero sentir o corpo
corpo a corpo
suas pernas
seus seios
seus péis
suas flores

quero sentir seus olhos
seus sonhos
suas lágrimas
seus anseios
sua alma

quero vê-la
mas não assim
quero ver por inteiro
corpo e alma
quero vê-la em concretude
quero vê-la em si somente

quero tê-la
mas não assim
saciar o meu desejo de corpo e tu
quero tê-la em meus braços
em meu corpo com o seu

beijar seu rosto
sentir seu corpo
abraçar seu cheiro