sábado, 19 de novembro de 2016

vênus

estrelas no céu
a lua sem véu
cores apagadas
duas almas embriagadas

toda nua, preta musa
ainda um pouco confusa
suor, risos e prazer
noite que nunca vou esquecer

uivam os lobos pela cidade
abre-se um leque de possibilidades
num quarto laços no escuro
um misto de gemidos e sussurros

na pele o sal
doce e quente
distante do mal
fora da mente

o mundo parou naquele instante
ela em meus braços, radiante
não importava mais o futuro
me sentia um menino mais maduro

trocaria toda a eternidade
por essa felicidade
um instante apenas
pra alma que não é pequena

se o mundo for meu
reviverei o que aconteceu
do modo que puder
lhe amarei novamente mulher

sereno

amanheceu rápido demais
a paixão incendiou os laços
o fogo devorou a carne
tudo ficou estremecido
depois de ter quase todas as certezas abaladas
veio a tarde amansar o dia
um respirar mais lento
apaziguando um corpo acelerado
a noite chega
as estrelas e a lua
os pensamentos se dissolvem
a racionalidade do homem se suspende
a leveza do poeta ressurge nas entrelinhas
a calma volta a reinar no coração
assim como o orvalho que cai na madrugada
a serenidade abraçou o poeta

porvir


feche os olhos
sinta o mundo
ouça o vento

preta
um sussurro na madrugada
seu colo ainda é meu
meu corpo ainda é seu
a noite não terminou

preta
teu riso vestiu minha alma
seu jeito tocou minha fragilidade
seu corpo está em mim
meus versos estão em ti

meu abraço pede sua cintura
minhas noites pedem sua presença
seu cabelo sente falta dos meus dedos
suas madrugadas pedem minha voz

estou me segurando o quanto posso
as horas estão passando
a chama vai se apagar
no meu peito tem seu nome
a cicatriz já se fez
marca feliz de algo bom

apenas o suficiente
nunca pedi nada a mais que isso
mas tenho um lábio insaciável

chegou o fim do começo
a pluma deve voltar ao vento
o navegante ao mar
o sol ao céu

preta
foi bom estar contigo
o lençol ainda tem meu cheiro
o laço não foi rompido
apenas esticado

preta
me deixe a janela aberta

domingo, 6 de novembro de 2016

radiante

as estrelas no céu me apontaram
cadenciaram um caminho
das oportunidades da vida
das limitações do corpo
dos encantos da alma
uma mulher
uma mulher
o sorriso iluminado
os cabelos ondulados
a cintura fina
o quadril...
das esferas que compõem o mundo
das correntes que cercam a vida
a argola no nariz
meu corpo ainda tremulo
um corpo de musa sob a luz da noite
radiante
o sol
o sal
o sal doce dos lábios
um som revelado
morena pele macia
um jeito inflamável
a vontade que não cessa
um desejo constante de abraçar
todo universo compilado num emaranhado
mãos
bocas
pernas
uma silhueta inspiradora
um encanto além dos céus
nove patamares mais próximos do espaço 
próximos das conjunturas e influências dos astros
a cidade se envaidece
o dia chega
já é manhã
não quero ir
as ruas da cidade ainda estão vazias
a saudade da madrugada percorre as rodovias
os olhos meus ainda em claro
o coração extasiado 
o perfume dela em minha camisa
pedaços de mim deixados no sofá da sala
tracejo dela em meu peito
um afeto atravessado no coração

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

ódio

mesmo que eu lhe mate
mesmo que você me mate
o ódio que há em mim
o ódio que há em você
continuará vivo
ardendo e ferindo o peito
o tempo vai passar
muita coisa vai acontecer
a cicatriz irá lembrar
o momento de cólera e cegueira
mesmo que você termine com o meu ser
mesmo que meu corpo seja coberto com terra
minha alma irá vagar pelo mundo
seu rancor sobre mim
sua vontade de vingança
nunca será completa
seu ódio continuará aí
pois não sou eu quem você odeia
sou apenas um objeto de investimento
o seu ódio não é por mim
mas sim por aquilo que lhe represento
e represento apenas algo indesejável
indesejável em ti
só deixará de sentir
de sentir o ódio em seu peito
no momento em que suportar
suportar a ideia de que somos diferentes
e sim
irá matar
matar ou compreender
aquilo que em você gera tanta dor
aquilo que é impossível ser visto
ser visto em ti
a não ser
a não ser refletido em mim
quando der sentido a isso
quando a metáfora chegar a uma imagem
quando a lagarta tornar-se borboleta
seremos libertos
eu e tu
meu ódio
teu ódio
em mim
em ti