sábado, 31 de março de 2012

novo

tudo o que é novo instiga
provoca curiosidade
e medo
medo do desconhecido
vontade de experimentar
receio de arriscar
o velho nos traz mais segurança
conforto
mas não nos mostra nada além
nada a mais do que já se conhece
lançar-nos novamente
abandonar o velho
ser mais velhos
mas não os mesmos
é inevitável
somos velhos novos
mesmo que não queira
até mesmo eu
que sou aquele velho
tenho algo novo dentro de mim
por que não
por que não experimentar o novo
novo
qualquer coisa que não sabemos
talvez seja bom
talvez não
quem sabe...

pedras

 



"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho."
tinha uma pedra no meio do caminho
peguei esta pedra
e joguei nas águas de um lago
pedras...
insistem em aparecer
empurro algumas
quebro tantas
contorno outras
mas sempre aparecem no caminho
grandes
pequenas
preciosas...
indesejaveis
às vezes muitas
às vezes poucas
há tempos que preciso carregá-las
noutros tenho que soltá-las
pedras...
sempre surgem
pedras no sapato
que castigam
incomodam
formam calos
troco os calçados
ou piso nelas descalço
pedras...
quando estou forte
quebro as pedras com martelo
quando enfraqueço
durmo sobre elas
e assim continuo
pedras...
as pedras e eu já combinamos
não atrapalho
nem julgo as funções a elas destinadas
mas elas precisam me dixar avançar
algumas relutam...
mas todas cumprem com sua palavra

verídicos

O que nos cerca?
O que nos mantém?
O que pensamos?
Verdade?
Fato?
Talvez fossemos alienados.
Homens da caverna de Platão.
Meros espectadores de sombras.
Sombras que nos iludem.
Será que tudo na verdade não o é?
Quem sabe tudo não seja uma mentira?
Uma verdadeira mentira.
Acreditamos em tantas coisas.
Mas a verdade nem sempre é verídica.
Nos damos ao trabalho de justificá-la.
Esta dona.
A mentira.
Na verdade a verdade não podemos saber.

domingo, 25 de março de 2012

entardecer


O Sol desaparece diante dos meus olhos, anunciando a morte de mais um dia. Ele deixa que a noite oculpe seu lugar. A escuridão enautecerá a luz das estrelas. As palpebras se fecharão e acontecerá o encontro. Sonharei contigo nesta noite.

borboletas


 


queríamos ser como borboletas então
fonte de inspiração
sua grande transformação
resulta em sua mais bela apresentação

como num estado evolutivo
que sempre passa a algo mais positivo
de uma lagarta rastejante
se forma um ser flutuante

eclode de um ovo e sai
rastejante estranha vai
crescendo cada vez mais

se enjaula num casulo
no mais perfeito espetáculo
poderia prever qualquer oráculo
o ser que se origina deste receptáculo

ao romper novamente a barreira
sem fazer qualquer besteira
secas as asas e se esgueira
entre os ares ela se faz festeira

sábado, 17 de março de 2012

estopim


é preciso ir atrás
só quando passa
quando passa é que se percebe
a oportunidade se vai...
escorre entre os dedos
desaparece feito fumaça
por tanto esperar
aquele dado momento certo
em que tudo ocorre como planejado
acabei deixando
deixando que tudo não acontecesse
como aquele que esperava o vagão mais vazio
e que vê o trêm partir
fiquei sozinho parado na estação
vendo meu lugar guardado
correndo sobre os trilhos
outro trêm não interessa
francamente se perdeu a pressa
hoje percebo que não há momento
não há instante certo
o que há é a atitude
a hora certa é aquela em que se faz
porque todas
todas as outras em que não se vai
não existem
há apenas aquilo que se imaginou
que sonhou que fosse
não há momento certo
este é o correto
o instante em que saímos do conforto
e partimos pro embate
é um risco...
como tudo na vida
dilemas demais pra vencer
pra pensar demasiadamente
é um risco...
nunca saberemos qual o sinal
a insegurança nos paraliza
mas o mundo se move
e meu movimento é inevitável
o universo me abriu os olhos
e um começo já foi estabelecido
sigo na marcha...
pra ver o que acontece
espero que aconteça
não posso mais não acontecer
já é hora de romper o laço
peço clareza
que enxergue diferente
que corra
me mova
agora
peço a Deus um céu azul
o restante...
o restante fica por minha conta

sábado, 10 de março de 2012

poder

os sons ecoam no espaço
se propagam como o vento
refletem feito espelho
o som do planeta se espalha
nos atinge
nos coloca como meros ouvintes
nos prende relapsos
a natureza inspira...
mas há alguns sons que vão além
nos estimulam
e lá dentro ecoam
ficam batendo
se transformam
nos transformam
mudam de sentido
criam coisas novas
nos impressionam...
as palavras em nossas mentes
se tornam incontestáveis
as imagens que nos levam além
que nos baseiam
que nos iludem...
o poder das palavras
elas causam danos
nos constroem
desmoronam-nos
provocam
instigam
nos fazem nós mesmos
nos fazem estremecer
nos põem em movimento
e tudo se renova

lábios

 



Lábios cor de rosa
me põe a toda prosa
me mostrando a delicadeza
daquela que se fecha
em suas próprias convicções

Lábios feito canções
encantam os corações
baseia minhas paixões

Lábios cor de mel
ao tocá-los encontro o céu
mais perfeito sonho meu
que minha terra estremeceu

Lábios de labirinto
me perco num infinito
entro de cabeça nesse conflito

serenata



estou parado em frente ao seu portão
violão na mão
na cabeça apenas uma idéia
serenata
as flores estão no carro
talvez eu seja o último romântico
talvez um pouco clichê

não sou o melhor mariachi
meu chapéu esqueci em casa
mas estou aqui
vencendo o medo
esperando que apareça na janela

treinei todos os acordes
da música que sei que adora
é cedo eu sei
mas serenata precisa ter sereno
o sol ainda acorda
convido os galos pra cantar comigo

sua face adormecida reluz pela janela
espero um sorriso
daqueles lábios em breve despertar
entoando o refrão
lhe vejo a verificar a realidade
um sorriso...
o sol surge clareando os céus

a razão do meu desajeitado
desafinado presente
torna-se platéia de um conserto
conserto de um homem só
mas com mil sonhos que o acompanham

um dedilhado pra encerrar
tomo as flores nas mãos
e caminho em direção à garota
dona desta serenata.

desacorçoado

não sei explicar
parece que parte de mim falta um pedaço
há algo incompleto
percorro o tempo
caminho pelas horas
mas nada,
nada acontece
tudo aqui parece estático
parado
o ar infla meus pulmões
meu coração palpita
mas o que parece
parece que não há movimento
as palavras não fluem
o pensamento não leva
o som não ecoa
as pupilas não dilatam
nada me emociona
nada me motiva
como se estivesse em estado vegetativo
vegetativo de pensamento
a mercê do mundo que me cerca
fazendo o gosto das interações
sem me inteirar
relapso no tempo
desacorçoado do mundo
indiferente a tudo

saber

O saber não nos livra
dos desafios da vida,
nem nos coloca num patamar diferenciado.
O que ocorre
é que vemos os problemas com uma maior complexidade.

O saber não faz com que soframos menos,
nem nos torna mais felizes,
mas nos dá mais saídas para as tribulações
e uma maior compreenção do que nos faz felizes.

Saber não quer dizer nada.
Absolutamente nada.
Quando não se sabe
o que fazer com ele.

Por vezes o saber causa angústia
Angústia por saber,
saber que não se sabe.

O saber nos torna reféns,
ficamos presos às informações
não podemos ignorá-las,
fingir desconhecimento.
Elas se tornam parte de nós.

Buscamos incessantemente
saber mais
saber sobre isso, sobre aquilo,
sobre tudo.

Mas e ai?
O quanto você sabe?
Até onde devemos saber?
O que queremos saber?
Saber?

O saber todo mundo sabe...
funciona a qualquer coisa
sabemos sobre muito
mas não sabemos nada.

falso

Sei exatamente o que dizer.
Todas as palavras certas estão aqui,
prontas para serem lançadas.
Mas não o faço.
Penso que seria injusto,
lhe manipular a esse ponto.
Não sou aquele que você acreditará ser,
um homem construido por palavras.
Aquele que ilusóriamente imaginaria.
Não é certo,
talvez fosse bom,
bom para mim,
bom para você.
Mas não seria real.
Para mim seria,
mas para você...
seria uma realidade inexistente.
Um vir a ser
de não chegar.
Este alguém que imaginaria que eu fosse
ficaria somente no seu sonho,
pois eu, eu realmente sou outro qualquer.
Um cara como todos os outros,
mas com a clareza da manipulação.
Lhe faria caminhar,
lhe faria feliz,
mas não uma felicidade baseada no concreto.
Uma real falsa felicidade.
Não seria eu...
e sim aquele que fiz você pensar que fosse.
Mas não é assim que é a vida?
As pessoas não são como agente pensa que são.
Aquilo que imaginamos não o é.
Qual o mal de construir uma imagem perfeita para você?
Não seria natural.
Não seria um fluir por si só.
Então deixo assim.
Guardo comigo toda falsidade,
que poderia nos trazer felicidade...
mas que não seria o que realmente podeira ser.