sábado, 24 de outubro de 2015

precipitou-se

precipitou-se
entregou-se ao insano
fugiu das anedotas
escreveu seus próprios versos

ao som de Iorc
coisa linda
caçou as mais felizes estrelas
postou no céu pensamentos
sem comentários

correu como um lunático
avistou as flores do asfalto
colheu algumas amarelas
fez um buquê
entregou a sua amada
se entregou

precipitou-se
fez se chuva
feroz como um gato
um gato de rua
caçou borboletas no jardim

nas entrelinhas
se escondeu
se perdeu
e assumiu seus pecados

um quindim amarelo
bromélias e lírios
encontrou-se
perto de uma esquina
onde a vida dobra
onde a vida repete

precipitou-se
sentiu um frio na barriga
os olhos fechou
os punhos serrou
e os dentes apertou

cresceu
ocorreu que não era tarde
devir
lhe empurrou novamente
decolou-o para baixo
precipitou-se

na renuncia
na busca
assumiu sua culpa
vestiu sua calça branca
foi recitar poemas no gramado
o ipê sorriu
o sol brilhou
precipitou-se

domingo, 18 de outubro de 2015

preta


preta
não faz assim
sei que não acabou
sua nuca
pede meu cavanhaque
suas pernas
as minhas mãos

preta
não fuja assim
pinta os lábios de vermelho
os olhos de preto
os óculos intelectuais
a saia curta

preta
onde está você?
a navalha corta meus punhos
suas palavras estão ausentes
seu cheiro bem distante
seu riso anoiteceu

preta
uso palavras descartáveis
mas as coisas que carrego
são profundas
como as filosofias

preta
não seja ingênua
eu não presto mesmo
nem quero que pense o contrário
mas nem tudo é bom no mundo
meus erros
são para compensar meus prazeres

preta
sou mais um na multidão
não faço nada espetacular
mas sei e você sabe
que nós juntos
somos a mais bela poesia

preta
fique um pouco mais
me dê um cheiro
fale do seu dia
escute minha estupidez

preta
traga seu sorriso
me embrulhe em seus lábios
me contorne com seus braços
balance seu quadril...

preta
me dê a mão
seja minha companheira
meus devaneios solitários
necessitam de um toque feminino

preta
se apronte rapidamente
logo passarei aí
iremos curtir a noite
seremos passageiros
do planeta embriagado

domingo, 11 de outubro de 2015

casinha

no final da tarde
vai à beira do brejo
os sapos coaxam
coaxam simplesmente
para impressionar as pretendentes

a suave brisa
abrasa o cansaço daquele
daquele que trabalhou o dia todo
o Sol se põe vagarosamente
sem pressa de anoitecer

as primeiras estrelas no céu
a lua ainda tímida
as galinhas se empoleiram
subindo no pé de manga
a mulher grita da varanda
chama o seu bem
arroz, feijão e frango
vinho bordô, como não?
o dia se encerra
as crianças já dormem
a onça vaga pela colina
a mulher aguarda com carinho
o sujeito de pijama
samba canção
a luz se apaga
e a história é novamente contada
os sonhos são elaborados
não precisa de relógio
o tempo pode ser desfrutado
sem ponteiros
os amantes
a mata
o orvalho da madrugada
a simplicidade

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

primavera




estava ali parado com meus pensamentos a vagar,
não havia nada de novo, nada de novo.
todas as pessoas pareciam iguais
todas não me pareciam...

até que surgiu o espanto
uma moça de cabelos ruivos
não que não houvesse outras ruivas
outras moças
mas aquela moça
aqueles cabelos ruivos...

ela não era igual, apesar de ser
ela não sei o quê...
ela tornou o dia igual em um singular
como o entardecer da primavera
assim que era ela
um jovem entardecer
rubra flor de primavera