quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

espectador

vê-la assim tão esplendorosa
vê-la assim tão bela e tão perto...
não sei se tudo aquilo que fui já foi o bastante
não sei se aquilo que fiz se fez real
mas fitar seus olhos assim...
adimirar seus cabelos desarrumados...
não sei se é possível
não sei se é favorável
não sei.
estava como sempre desejei
desejei em meu mais restrito íntimo desejo
estava tão bela
tão simples
não era aquela que se pode ver superficialmente
a sua beleza
era bela
muito além daquilo que os olhos podem ver
além daquilo que os sonhos podem alcançar
que a imaginação poderia criar
havia em você uma coisa de alma
uma coisa que vai além da explicação das palavras
além da explicação da razão
uma coisa assim...
uma coisa meio que indescritível
impossível
poderia ter lhe desenhado em pensamentos
lhe lapidado em devaneios
mas nenhuma das hipóteses poderia ser tão perfeita
sua beleza pura
sua sutileza leviana
seu caminhar de sonhos
era tudo que estes olhos de sonhador poderiam querer ter visto
de fato o que vi não era nada que tivesse de extraordinário
mas aquilo que me fez sentir
aquilo que me fez sonhar
aquilo que me fez imaginar
aquilo, aquela coisa vivida
aquela sim, indescrítivel
aquela foi uma das experiencias mais marcantes desta onda
desta vida de marés
desta balançada vida
não poderia ter criado coisa parecida
penso que há algo de mistério
dá uma vontade de descobrir
de desvendar
mas um medo de não ter mais com o que sonhar
deixo assim como está
uma inesgotável fonte de inspiração
nunca consumida, nunca tocada
deixo o devaneio se fazer por pura fonte de prazer
que aquilo que se vive se  torne única razão para deixar
deixar tudo como está
que o prazer gerado pela possibilidade
seja maior que a concretude da conquista do que se quer
que se deseja
não pude ter
fiquei com a leve e simples lembrança
o que me bastou por hora
deixo assim
mas não negarei a vontade de prosseguir
de finalizar
mas que seja assim por enquanto
que seja
e tudo se caminha com passos lentos e cegos
enquanto aquela luz não se fizer brilhar para mim
enquanto não a tiver em meus braços
fico assim
um espectador de coisas extraordinárias

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

terra

a terra nunca para
mesmo imovel ela se dispara
a terra nunca descança
para qualquer um, um motivo de esperança
a terra segue em frente
sob o sol escaldante
faz brotar a semente

a terra nunca tem folga
lhe entopem de adubo para ver se lhe empolga
as terras vermelhas paulistas
precisam fazer da cana suas unhas postiças
a terra solo fértil
precisa ser a todo tempo util

sobre as terras do interior de cá
um tapere verde se faz brotar
das florestas que tomou o lugar
um chão automático sem razão
faz se de um tudo para a produção

estou passando com meu automóvel
observando a cana imóvel
como cresce sem meu cuidar
faço dela fumaça ao acelerar
escraviso o solo do meu estado
para poder cruza-lo sentado

não vejo razão para tanta plantação
mas não deixo de prestar a atenção
em minha aceleração
reclamo da devastação
mas ainda uso o carro para comprar o pão
na padaria da esquina no João

tempo

estranho é o tempo
ele passa sem que ninguém perceba
ele passa até que alguém se espante
e conte nos dedos o tempo que passou

já passaram horas desde a hora passada
nem parece e já é madrugada
o dia parece estar amanhecendo antes do tempo
as horas ainda me faltam

queria fazer tanta coisa
mas o tempo, o tempo correu demasiadamente
quando pensei já era dezembro
pelo menos o proximo será janeiro

pensar que janeiro passado parece ter sido ontem
e ontem ainda era dezembro...
agora é dezembro que vem depois de janeiro
mas que por ventura é antes de janeiro

o tempo está passando
sem que eu perceba
quando vejo já estou com a barba comprida
quando vejo já anoiteceu

anoiteceu e não vi a tarte
não contemplei o sol poente
não vislumbrei as ondas do mar
o canto dos pássaros

não quero viver só de passado
nem só de futuro
desejo apenas viver
viver aquilo que se há para viver

janeiros e dezembros
primeveras e outonos
verões e invernos
nascimento e luto

o passado é inevitável
o futuro também
e o presente...
o presente é o que temos pra hoje.