quarta-feira, 19 de agosto de 2015

garoto

poderia ter agora 83 anos...
ainda assim seria apenas garoto
um inexperiente
um desnecessário
garoto

perto de uma mulher...
não me sobra muito
o mistério do corpo
o encanto da alma

o perfume de florestas tropicais
calor e humidade
não me sobra muito
a não ser
ser
garoto 

mãos e braços
beijos e abraços
eh o que nos torna
nos torna eternamente
garotos

na voz de Leoni
que nos faz acreditar
que nossa vivencia 
foi musicada

não tenho tanta vida eu sei
qualquer um seria maior que eu
certamente se fosse
se fosse o mais forte dos homens
se fosse o mais rico dos reis
ainda assim
ainda assim me faria
me faria
garoto
garoto apenas
frente a uma mulher
mas não qualquer mulher
mulher
mulher pra mim

o que faz o garoto
se tudo o que precisa
tudo que almeja
tudo que deseja
está ali
na mulher
mulher
que o torna garoto
em qualquer circunstâncias

o que quer o garoto
se não gozar a mulher?
aproveitar cada pedacinho de bom
navegar cada arrepio na nuca
afagar cada cabelo
assoprar cada encantamento

não nos resta muito
não me resta nada
apenas ser
ser garoto
frente a mulher
a mulher amada

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ana

sua voz quase gemido
os acordes suavemente cadenciados
a poética da canção...

os óculos sobre o nariz
um ar de intelectualidade
os olhos fechados
provável entrega

o queixo quase quadrado
os lábios grossos
cor de rouge
um corpo quequeno
menina

nem há inteção
há simplicidade
há pureza
de movimentos



terça-feira, 11 de agosto de 2015

reticências


sou das longas conversas
das palavras lançadas
das ideias insanas...


sou do caminhar lento
do olhar distraído
da atenção flutuante... 

sou dos pensamentos estranhos
do vinho bordô suave
dos desenhos em nuvens...

sou do pão com ovo
do tempo perdido
dos versos do Pessoa...

sou da gente simples
das duas rodas
dos dias chuvosos e frios...

sou das modas de viola
da poética das flores
de Marte...

sou da vontade de sorvete
da cidade interiorana
das músicas no fone de ouvido...

sou dos poemas incompletos
da falta de argumentos
da não citação...

sou das angustias
da observação de estrelas
da musica de Ana Paula Gomes...

sou do pôr do Sol
das lágrimas irracionais
das palavras incorretas...

sou das aberturas
das possibilidades
das reticências...

domingo, 9 de agosto de 2015

miragem


nossos olhares se cruzam
nossas almas se sorriem
nossos sonhos se iluminam

mas tu e toda beleza
se fecham
desaparecem
e o seu olhar se desprende do meu

seria um delírio
uma miragem
apenas uma vaga lembrança
um traço do que não foi
um vislumbre solitário

acreditei demasiado
achei que era em minha direção
mas estive equivocado
apaixonado por uma miragem
correspondido por um feitiço

tudo era nada
e aqueles que me enlouqueciam
nem repararam no meu olhar
os olhos que fitaram os meus
atravessaram minha alma
e não se deixaram sensibilizar

queria não ter sido afetado
cativado
queria que roubassem minha sanidade
mas agora retiro o véu da fantasia
da ilusão

respirar

e se o horizonte for longe demais...
e se os caminhos nunca mais se cruzarem...
e se as lembranças nos forem roubadas...
e se os sonhos forem deixados após o despertar...
ainda assim...
ainda assim haverá valido a pena
pelo simples fato do mundo girar
pela simples possibilidade do vivido
pela potencialidade de nossas almas
nossa transcendência
pela caminhada
pelas palavras jogadas fora
pelos afetos que nos saltaram aos olhos
pela capacidade de experienciar o belo
do gramado
dos jardins
das ruas madrugadeiras
das possibilidades
que ainda não foram perdidas

daquilo que virá

querer

sabe o mar
o imenso e maravilhoso mar
o mar de ondas e nevoeiro
o mar da vida
pois no mar naveguei
naveguei por sonhos estranhos
por histórias insanas
naveguei

no meu barco
guiando o leme
vive meu querer
meu querer navegou
navegou pelo mar
e assim vaguei
vaguei o mundo

meu querer mudava de direção
houveram tempestades
dias de sol
ilhas
montanhas
e praias

no mar
no mar meu querer me fez menino
e menino quis muitas coisas
coisas que não se pode catalogar
quis nuvens
quis viagens
quis afetos
quis bobagens
meu querer
meu devastador querer
quis pessoas

algumas vezes houve paz
houve possibilidade
mas por muito
por pouco
poucas vezes
meu querer encontrou
encontrou-se com outro
outro querer

houve quem quisesse meu querer
houve querer que meu querer
que meu querer não quis
e houve querer que alegrou 
alegrou meu querer
mas não o quis

o vento ainda sopra
as velas estão hasteadas
e meu querer
meu querer navega
navega em busca de outro
outro querer
outro querer que o queira
e que ele queira também

meu querer navega os mares
buscando um par
não precisa ser igual
em intensidade
ou quantidade
mas que haja querência
das duas partes

meu querer naufraga
meu querer emenda
meu querer flutua
meu querer quer o mar
meu querer quer amar

sábado, 1 de agosto de 2015

colo

sabe menina
o que encanta o poeta
é a imagem
a imagem incompleta
como aqueles pontilhados
desenhos de criança
que devemos ligar os pontos
sabe aqueles racionais pontos
aqueles enumerados pontos
mas o poeta
o poeta menina
não é tão racional
e eu
menina
sou um poeta
projeto de poeta
e levo tempo
levo tempo para ligar
ligar os pontos
e construir alguma imagem
ah menina
pintei um quadro sabe
um quadro daquela imagem
imagem de noite fria
imagem de descoberta

sabe menina
ainda sou um qualquer
ainda sou garoto
estou aprendendo o beabah

abaixo daquela árvore
naquela fria noite curitibana
em uma calçada comum
velando o romance de dois amigos
matamos o tempo
cuidando do que não era nosso
não precisávamos de respostas

já lhe havia prometido não lutar
não forçar nada
mas...
um guerreiro é sempre guerreiro
lhe cobri com meu manto
para espantar o frio intenso
quem sabe ficasse mais um tempo

espanto meu
quando aceitou colo meu
penso que também se espantou em aceitar
mas...
o mundo às vezes é improvável

me fiz leito
para seu quase sono
seu entorpecer na madrugada
sabe menina
me contive demasiadamente
para manter a promessa de outrora
não lhe beijar naquela hora
foi das decisões mais difíceis
não queria estragar a lembrança
tive medo de arriscar
mas...
me valeu a inspiração

menina
despertaste meus instintos mais paternais
queria ser eu mais homem
para lhe tirar todas as dúvidas
queria eu ter tempo de lhe provar
provar que não há o que se dizer
que olhos de poeta
que versos
são mais que simples palavras

ah menina
sabes tu
que por algum momento desejei que o tempo
o precioso tempo
e o espaço
espaço por que não
se tornassem mais empáticos comigo
aquele tempo
aquele instante
que agora malogradamente
finco no tempo

não seja música
não seja verso
não seja outra
aproveite a vida
ouça um insano desvelado
aceite os versos
reversos
de um velho
moleque

das possibilidades do mundo
sabe lá se haverá nova noite
sabe lá se haverá outras inspirações
provavelmente nunca irei ver novamente
seus olhos
nem acariciarei seus cabelos
mas me dói admitir
que o sofrimento é inspirador
para nós dois

gostei de ti
nesta nave espacial
nesta noite especial
deitada em meu colo
envolta em meus braços
tão menina
desprotegida
entregue ao estranho
segura em meu quadro

ressurreição

achei graça, mas não ri...
achei belo, mas não sussurrei
achei que acabaria cedo demais
então me desfiz de antemão
me interrompi
mas ecoei dentro de mim
e isso gerou música
os risos
as inspirações
iluminaram minhas entranhas
vaga-lumes na barriga
parecia um ursinho carinhoso
disparei flashes abdominais
projetei para fora
os filmes que me passavam na cabeça
as imagens insanas
diferentes ficções científicas
mais ficções reais
a poesia se fez
se fez porque não sabia outra forma
por que não sabia outro nome
na parede do quarto escuro
agora passam projeções de mim
histórias que inventei
para poder expor
aquilo que estava escondido
e que de algum modo
me envergonhei em dizer antes
o filme que passa em meu quarto
é o poema - "ressurreição"