quarta-feira, 26 de junho de 2013

espelho

vejo aquele homem
pobre homem

poderia ser meu filho
seria um abandono

poderia ser meu pai
seria uma catástrofe

poderia ser meu irmão
seria somente mais um

... meu caro
devo lhe dizer
ele não é seu filho
não é seu pai
tão pouco seu irmão
és tu
és apenas tu
tu encarnado em outrem
a sua distância dele
é a propria distância de ti

como abandona-te?
como se nega?
como tolera sua propria distância?

aquilo que vemos
sabemos
mas o insuportável
deve ser banido de nós
mesmo que para isso
deixemos um pedaço excluso
um pedaço quase todo
uma parte inseparável
toda a parte
mesmo que seja nossa proprria  morte
mesmo que seja nossa propria dor
que ao menos não pareça ser

somos todos falsos
nos olhando nos espelhos
fingindo não ver o reflexo na luz
provando que o mundo não pertence a nós