terça-feira, 24 de novembro de 2015

alvo

serei eu
seu mais avassalador inebriante
seu correspondente louco
serei seu mais insano desejo
terei seu coração em minhas falas
seu sorriso mais belo e inevitável

serei suas esperas de ligação
terei sua novidade inesperada
a surpresa mais catastrófica
borrarei seu batom vermelho
lutarei guerras intergaláticas

seus castanhos cabelos sofrerão
eternamente embaraçados
em minha mais impulsiva satisfação
sentirá dores na nuca
terá o pescoço sempre avermelhado

as noites não serão as mesmas
as manhãs chegarão mais cedo
o sol irá despertar quem ainda não adormeceu

seu jeito espevitado
de menina que quer o mundo
continuará assim
e eu...
eu serei a chama mais ardente da tarde
a lenha mais seca e inflamável
a chuva se tornará fumaça em brasa

pequena
crivo aqui meu desejo em ti
coloco um alvo em seu peito
caminho de pés descalços
vou em direção ao sol
em direção ao seu riso
seguirei seu perfume
te guardarei em um abraço

Carolina

na manhã de domingo
manhã clara e quente
o sol ainda inspirava os primeiros sintomas
na casa ao lado
num jardim despretensioso
com o regador
a mais bela cena matinal
Carolina e chuva artificial
o sol contrastava com a pele morena
os cabelos pretos e ondulados
Carolina
mil girassóis
quarenta orquídeas
bromélias amedrontadas
dentre tantas flores do universo
a mais bela
a mais bela do momento
era a que regava as outras

Carolina transpirava
vapores e volúpias
alegrava as plantas
e no meu coração
no meu coração floresciam versos

mal sabia Carolina
que o que mais queria
era que a flor mais bela
a mais bela flor
fosse regada por divindades
ver todas as flores na chuva
seria uma dádiva
sol, chuva e Carolina

vida


estar no fim
e ainda assim
apenas começando...

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

silêncio


havia silêncio
havia silêncio...
havia silêncio...
ecoava o silêncio
houve uma onda
onda
a onda criou um turbilhão
turbilhão incontrolável
impensável
impossível
a confusão imperou
tudo era turvo e sombrio
veio a guerra
tentou-se lapidar o diamante
não havia forma
não havia regra
tudo era barulho
murmuro e gemido
o silêncio era ensurdecedor
haviam gritos e desespero
algo precisava surgir
o peito doía
a garganta apertava
o choro esperava a decolagem
veio a imagem
um projeto de superação
o silêncio virou palavra
uma miragem no deserto
o sem sentido
foi sentido
criou-se a falsidade
a garganta berrou
o peito disparou
o mundo floresceu
a palavra ganhou vida
e foi lançada ao mundo
o silêncio voutou
ouviram o silêncio
o silêncio aguarda a onda
nova onda
desesperada onda
angustiado mar
translúcido vento
silêncio
ouviram o silêncio 

embriagado


posso lhe trazer prazer
mas não me peça amor
posso lhe fazer muitos agrados
mas não poderei lhe dar o mundo

mesmo que haja desejo
meu amor está preso em outros olhos
meu coração caminha por outros vales
um outro pescoço guarda meus sonhos
outra mulher ainda inspira meus versos...

se quiseres prazer estarei aqui
sou qualquer pedaço de carne
posso fazer o que você quiser
mas amor não posso dar

posso falar o que deseja ouvir
posso lhe fazer suspirar de desejo
deixá-la esperando a semana toda
por uma noite comigo
mas não serei eu
será apenas minha parte mais perversa

sua vontade de mim acabará
seu desagrado aumentará
pois mesmo presente
contigo não vou estar

posso ver beleza em seu ser
posso até me encantar em sua imagem
mas sei o quanto sou tormento
sei que engendrarei a mais insana superficialidade

não que eu seja sempre assim
conheço parte da parte mais bela
mais agradável em mim
mas a minha face mais luminosa
está embriagada de saudades da lua

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

brevidade

nos olhos do menino
na fragilidade de um corpo
vi toda a força do mundo
a morte não era temida
a vida era vivida
nas possibilidades de vida

na fraqueza delicada
na sutil pureza
escutei na fala do menino
a coisa mais profunda
a mais bela verdade instantânea

quantos anos precisamos
quantas vidas tocamos
para entender a vida
o menino precisou de poucos
poucos breves anos
para saber o que muitos
muitos nunca entenderão
mesmo vivendo dez décadas

quanto dura a vida
quanto é dura a vida
ceifeiros rondam na alvorada
a vida
delicada vida
desaparece em um sopro
em um suspiro
a vida dura o tempo exato
o suficiente

na brevidade da vida
aquele curto instante
foi suficiente para ser eterno
eterno na memória
na saudade
no aprendizado

domingo, 1 de novembro de 2015

renascer

não é ano novo
ainda é meados de agosto
mas há algo novo
há o novo neste mundo tão antigo
velho mundo
o que há de novidade?
o que há de novo se não a vida nova?
essa sementinha de vir-a-ser

bocejando em um ventre
há uma nova vida
um novo fôlego
novas batidas
inúmeras bagunças
e alguns degraus

há uma nova maneira de assistir TV
de ver o comercial da Pampers...
da Hipoglós...
da Jonson e jonson...

qual a cor dos olhos?
cabelos cacheados ou lisos?
negros, ruivos, loiros, castanhos...
quão belo vai ser?
quão esperto?
será o mais desejado

uma nova vida espera a alvorada
um novo nascer do Sol
é um desafio encontrar o mistério
é delicioso viver o mistério daquilo
daquilo que se pensou ser tão conhecido

desejo-lhe descobertas
anos novos
novos momentos
com a sementinha de vir-a-ser