terça-feira, 24 de março de 2015

pescaria

eles estão todos preparados
é boca da noite
o sol se despede
acena por trás das nuvens
a brisa fresca de fim de tarde...
as bóias tremulam na flor d'água
o predador se esforça
a fim de enxergar
presenciar o momento certo
crucial para a fisgada
paciência
esperança
sorte
seva
e a vontade da emoção
a adrenalina pegar um peixe
inteligência e sensibilidade
dois pontos cruciais para quem pesca

a maré
a maré não está para peixe
hoje o dia foi dos peixes
dos peixes e dos pensamentos
com o anzol na água a mente voa
o mundo parece leviano
a calmaria da lagoa
a paz do silêncio
inúmeras reflexões
o mundo para
para quando a isca é lançada
e tudo o que mais se deseja
é apenas um simples balançar
um correr de bóia
e quem sabe um peixe
um pequeno peixe
pois o maior ainda há de escapar

chuva

a chuva cai
molhando gentilmente a cidade
uma leve brisa
brisa fria que passa
traz a lembrança dela

penso nela
dentro do meu abraço
os trovões cadenciam
meu coração que ainda espera
o sorriso dela
o calor de seu corpo
o cheiro do cabelo

sei que este jeito
este estado de mundo
o frio e a chuva
estas duas coisas
a deixam mais maleável
mais sonhadora
mais entregue

ela fica tranquila quando chove
o frio atiça
o que ela carrega de mais quente
está tudo aqui...
só falta ela

meu coração pulsa
ainda em descompasso
mas sei
que mesmo que ela me falte aqui
eu falto nela

e enquanto houver o mundo
enquanto houver a possibilidade
haverá nós dois
o frio
a chuva
dois L's
num abraço

forasteiro

ele vem de longe
sabe lá de onde
ele é de fora
e quer dar palpite agora

ele quer se sentar
ele quer nos investigar
pior
analisar
ele não sabe nada
tem a mente perturbada

o forasteiro aqui é ninguém
não sabe o que se tem
ele chega cheio de perguntas
pra nos pegar de calças curtas

esses forasteiros conhecemos bem
por aqui passaram mais de cem
chegam sem fazer alarde
deixam tudo pela metade
quando não nos criticam
fazem coisas e não explicam

dois

risos e estranhezas
qualquer frescura
mentirinhas adocicadas
algumas infantilidades nossas

loucuras impensáveis
seus risos sem explicação
minhas piadas sem entendimento
algumas viagens
viagens vans para lugar algum
pensamentos dispersos

nossos olhares vagam pela planície
sem buscar qualquer explicação
sem entender qualquer coisa
apenas dois seres abraçados
a razão passando longe
correndo da nossa insensatez

dois bobos estranhos
dois sonhadores
soltos como pluma ao vento
descompassados
descompromissados
dois apaixonados

qualquer

escrevi em meu caderninho
alguns versos pra eu não esquecer
pra eu poder lembrar
daquilo que num insite me apareceu
sei que não foi muito
nem tão lindo
mas deveria lembrar
por algum instante me pareceu importante

sei que não sei escrever
sei também que minha letra é horrivel
mas o que vale
o que vale é a intenção
e aqui
aqui há milhões delas
milhões de segundas
segundas intenções

sei que não sou poeta
sei que ainda quero dizer o que digo
sei que estou a serviço
à serviço da linguagem
não sei de nada
verdade
mesmo que pareça
ainda flutuo na névoa
ainda me capturo em loucuras
devaneios

queria fazer algo
queria escrever algo
então anotei
anotei a vontade de escrever
neste meu caderninho
essas linhas azuis
esse papel amarelado

não produzi nada esta noite
a noite estava estrelada demais
não pude pensar em nada
apenas ouvi as estrelas
e as estrelas
as estrelas não me disseram nada
apenas sugeriram
sugeriram que o silêncio
o silêncio é a mais tenebrosa palavra

nestas voltas
voltas que naveguei
nas nuvens que não anotei
no luar que não retratei
nas estrelas que não olhei
deixei alguns versos
versos num papel
sem fundamento
sem sentido
devaguei
como um qualquer