ela botou seu vestido branco
branco rendado
calçou as sapatilhas roxas
emaranhou uma flor amarela nos cabelos
negros cabelos longos da pequena
ela tinha o perfume das rosas
uma mistura de vendavais
e nuvens brancas das montanhas
na tarde quente de verão
um domingo para ser mais exato
foi tomar sorvete
limão e chocolate
na casquinha
combinação perfeita
tipo ela
azeda e doce
branca e preta
tímida e revolucionária
observava o mundo
seus pensamentos voavam
o sorvete derretia
derretiam também os passantes
mas nem todos perceberam
ou entenderam
a beleza daquele instante
um universo todo
os lábios molhados
a língua na mistura
gelo e fruta
leite e chocolate
havia um frescor
novas possibilidades
novos sonhos
a brisa em seu cabelo
a flor preciosa
que carregava outra
as roxas sapatilhas balançavam
os pés que não alcançavam o chão
balançavam também
toda a certeza
de que gozaria novamente
algum momento como este
simples
inspirador
mágico
um sorvete
uma tarde
um domingo
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
alucinado
náufrago em seus olhos
mareados olhos
encantado por uma beleza imaginada
devoto de uma paixão
paixão que nem está
os perfumes flutuam as galáxias
seu cabelo preto
solto amarrado
os lábios rosa
Rosa
procurei você
nos meus mais sórdidos pensamentos
nos bares mais escondidos
nos mares mais longínquos
a cada passo
a cada laço
fiz novas lembranças
cada praia
cada pedacinho de miragem
sonhava você
o sal do mar
o sol nas ondas
seu pescoço arco-íris
as nuvens
deuses inexistentes
sei que não existe
mera criação de um alucinado
a construção devaneio
o vento
a maresia
a ressaca
corrompi meus versos
as palavras emudecem
os olhos corroem
o calor condena
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
cego
a claridade me cega
cega o homem da escuridão
acostumado com a firmeza da rocha
com a segurança dos meus passos
me vi bamba
me equilibrando com os braços abertos
nas ondulações do vento
nas incertezas da vida
o mundo se fez água
solúvel
líquido
totalmente passageiro
podia aceitar a efemeridade das coisas
mas o biscoito é sempre o último no pacote
o beijo é sempre de despedida
a luz clareia
clareia a obscuridade do patético
os romances não são bem vistos
não são sonhados
são apenas mais um gênero literário
moda do passado
nas superfícies impenetráveis
nada de profundidade
as conversas triviais
piores que a própria chuva
ou o sol
a vida do outro
parece ser mais importante
nada mais de poesia
ou ao menos loucuras
perdeu-se o mundo
criou-se a vida
moldou o homem
iluminado homem
cego de certezas
e julgamentos
de vidas alheias
a poesia
filha bastarda da linguagem
é esquecida nos becos
recolhida por caminhões
queimada nas lareiras sociais
nas rodas de conversas
nem se roda mais
a iluminação
a luz que cega
ensurdece o espírito
nada mais é perdido
nem o tempo
nem a foto
a selfie
da escuridão eu sabia bem
não havia razão
tudo era permitido
reprimido
me fiz homem
raso e vasto
para que todos me vejam
cega o homem da escuridão
acostumado com a firmeza da rocha
com a segurança dos meus passos
me vi bamba
me equilibrando com os braços abertos
nas ondulações do vento
nas incertezas da vida
o mundo se fez água
solúvel
líquido
totalmente passageiro
podia aceitar a efemeridade das coisas
mas o biscoito é sempre o último no pacote
o beijo é sempre de despedida
a luz clareia
clareia a obscuridade do patético
os romances não são bem vistos
não são sonhados
são apenas mais um gênero literário
moda do passado
nas superfícies impenetráveis
nada de profundidade
as conversas triviais
piores que a própria chuva
ou o sol
a vida do outro
parece ser mais importante
nada mais de poesia
ou ao menos loucuras
perdeu-se o mundo
criou-se a vida
moldou o homem
iluminado homem
cego de certezas
e julgamentos
de vidas alheias
a poesia
filha bastarda da linguagem
é esquecida nos becos
recolhida por caminhões
queimada nas lareiras sociais
nas rodas de conversas
nem se roda mais
a iluminação
a luz que cega
ensurdece o espírito
nada mais é perdido
nem o tempo
nem a foto
a selfie
da escuridão eu sabia bem
não havia razão
tudo era permitido
reprimido
me fiz homem
raso e vasto
para que todos me vejam
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