domingo, 27 de setembro de 2015

kombi

uma kombi
uma kombi verde
verde com o teto azul
azul estrelado

estrelas que percorrem as ruas
que alegra a vida dos transeuntes
estrelas que brilham
brilham mesmo com a luz do dia

uma kombi
uma kombi vagarosa
contrariando o transito
impedindo a fluidez ansiosa
a velocidade dos utilitários

o teto azul estrelado
refletiu um sonho
um vagar da memória
um promover futuro

o teto estrelado
pensado
pensado para aqueles de fora
passageiros
passageiros fora da condução

a kombi leva
carrega três pessoas
girando sobre quatro rodas
a kombi voa
voa com meus pensamentos
pensamentos inebriantes

naquele céu estrelado
da kombi verde
respirei o entusiasmo da vagarosidade
desejei paz e amor

uma kombi verde
o teto azul estrelado
levou minha monotonia
quebrou a corrente
se tornou disco voador

disléxico

leio o mundo todo errado
as entrelinhas que desvendo
estão todas equivocadas
nas linhas não há nada
entre elas há apenas fantasias

tão cálido quanto cego
vejo coisas que não existem
leio palavras que não dizem
disléxico

o que faço eu
pobre poeta
diabo
se o mundo está em hebraico

de mãos atadas
não leio braile
não sinto o cheiro
bagunço meus pensamentos
enlouquecido

quando o mundo me for legível
temo não gostar do que lerei
a fantasia às vezes
nos guarda das calamidades do mundo
resistente
resistente e alienado
cego poeta
ainda caminha apalpando equívocos

náufragos

embarcarei agora
velejarei por mares desconhecidos
viajarei de acordo com a vontade dos ventos

vou atracar em terras misteriosas
nadar em praias cristalinas
dormir em sombras
água fresca

nas tempestades
nas tempestades entenderei
que nada é para sempre
a vida se vai com uma grande onda

passarei por náufragos
meus corações perdidos
partidos

um veleiro sobre o mar
névoas confiantes
inebriantes

vendavais em meu peito
estrelas no meu cabelo
tubarões piratas

navegarei pelo mundo todo
mas voltarei
voltarei

voltarei aqui
aqui encontrei alguém
por quem vale a pena regressar

de todos os mundos
de todos os mares
aqui ainda é o meu melhor pior lugar

domingo, 20 de setembro de 2015

rosa

és rosa
vermelha rosa
rosa vermelha
cativas corações errantes
corações de realezas
príncipes
pequenos
cativas amores


és a rosa mais bela
mais bela que todas as outras
és única entre todas
pois nascera em meu planeta

lhe protegerei como puder
lhe amarei como for capaz
lhe deixarei viver

és rosa
és bela
és toda
és efêmera e louca
és passageira
és vida
és instante

onze


talvez seja tarde demais
jah passam das dez
ainda há o calor da tarde
ainda há o cheiro da morte do dia

sei que não sou mais
não sou mais que versos esquecidos
sei que não posso mais
viver poemas antigos

impossível não imaginar
e ainda petulante a sonhar
sonhar com seu riso

sei que jah é tarde
jah passam das dez
a noite quente quer esfriar
as estrelas correm feito crianças

sei que não sou mais
mais que versos inspirados
sei que não deveria
não deveria lhe fazer sonhar

mas ainda...
a cada vez que fujo
me aproximo
me aproximo...

o cursor piscando
e os meus dedos dedilhando
palavras que temo em enviar
jah é tarde
mas não quero dormir ainda

sei que talvez seja tarde
jah passam das dez
mas preciso gritar
gritar para a noite

sei que jah eh tarde
jah passam das dez
não espero nada novo
sei que a lua tem fazes 
desde sempre...

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

repetição


estou repetindo os mesmos erros
esbarrando nos mesmos medos
eu que acreditava ser criativo
vejo minhas criações como meras cópias

no mesmo quarto
relembrando o mesmo amor
escutando as mesmas músicas
relendo os mesmos versos
repetindo as palavras

escrevo cartas a ninguém
elaboro teses sem objetivos
costuro roupas que não usarei
calço sapatos sem ter para onde ir

traço estratégias para um mundo melhor
mas não saio deste mundo
amado mundo de mesmice

meus poemas idênticos
minha prosa
e pensamentos



pernas

pele morena
arrepiada com o vento frio
a saia acima das coxas
as pernas cruzadas...

as pernas da pequena
lançaram meus desejos
a vontade me devorava
alimentava minhas pulsões

aqueles pés pequenos
abraçaram meu corpo
entrelaçando nossas pernas
enraizando nossos corpos

toda volúpia de mulher
nas pernas de menina
a inocência de um abraço
a petulância de um sentido


domingo, 13 de setembro de 2015

black

para onde foram seus cachos?
para onde foram os seus
cachos?
o que fizestes com eles?
eles que eram a salvação do universo
o devaneio mais perverso
meu desejo mais confesso...

o que fizestes com seus cachos?
eles que sempre foram belos
que envolviam meus sonhos
caracóis de seu corpo

como me prenderei
no seu emaranhado agora?
se os dedos que se prendiam
agora passam como pela água?

reivindico eles de volta
por que são belos
e nada mais

de fato não sei muito
não entendo de belo
mas...
do que acho belo
disso entendo
entendo bem

faça novamente
o seu eu mais black
vista seu vestido mais retrô
e vamos tomar um café

não ligue para a chuva
não fique preocupada
o black não sai na chuva
deixe a chuva molhar
a felicidade mora ali
naquele canto molhado

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

cai

a chuva cai
cai
os pingos
os pingos precipitam
nada vai
nada vai chegar
ela não vai chegar
nem ficar
pois está chovendo
mas quando a chuva cai
quando ela cai
sinto mais saudade dela
e ela
ela não vem
quando a chuva cai
é noite
e a chuva cai
e quando é noite
sinto vontade dela
e me dói o peito
por saber
por saber que ela não virá
não virá
queria seus molhados cabelos
queria seu coração batendo
batendo em meu rosto
mas ela não vem
está chovendo
o que cai
cai
a saudade
na sala de estar
as lágrimas
na hora do jantar
pois é noite
há a chuva
e a ausência dela