a claridade me cega
cega o homem da escuridão
acostumado com a firmeza da rocha
com a segurança dos meus passos
me vi bamba
me equilibrando com os braços abertos
nas ondulações do vento
nas incertezas da vida
o mundo se fez água
solúvel
líquido
totalmente passageiro
podia aceitar a efemeridade das coisas
mas o biscoito é sempre o último no pacote
o beijo é sempre de despedida
a luz clareia
clareia a obscuridade do patético
os romances não são bem vistos
não são sonhados
são apenas mais um gênero literário
moda do passado
nas superfícies impenetráveis
nada de profundidade
as conversas triviais
piores que a própria chuva
ou o sol
a vida do outro
parece ser mais importante
nada mais de poesia
ou ao menos loucuras
perdeu-se o mundo
criou-se a vida
moldou o homem
iluminado homem
cego de certezas
e julgamentos
de vidas alheias
a poesia
filha bastarda da linguagem
é esquecida nos becos
recolhida por caminhões
queimada nas lareiras sociais
nas rodas de conversas
nem se roda mais
a iluminação
a luz que cega
ensurdece o espírito
nada mais é perdido
nem o tempo
nem a foto
a selfie
da escuridão eu sabia bem
não havia razão
tudo era permitido
reprimido
me fiz homem
raso e vasto
para que todos me vejam
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