domingo, 20 de dezembro de 2015

desjejum

os lábios feito estranhezas
as pernas trêmulas
o medo de perder o momento
o momento especial

um corpo ainda desconhecido
uma boca ainda inexplorada
os movimentos
os cheiros
os laços

na instantaneidade
na circunstância
na falta de oportunidade
na abertura dos braços
as mãos dadas

temi ser apenas um vassalo
um objeto descartável
fui usado
sei que fui
mas usei também

se a janela aberta mostra a chuva
é para lá que se deve ir
um salto e tudo vale
o corpo se molha
os abraços se mostram mais interessantes

o amanhecer é exagerado
o dia tem pressa
e apressa o que deveria ser calmo
o que deveria ser degustado
o que ainda era imaturo

a vontade de devorar era tamanha
que o alimento
o cardápio do dia
mostrava apenas
a vontade
meu lábio inferior

no desejo de lambuzar o macio lábio
a pressa foi mais violenta
a fome devorou antes de sentir o gosto total
e o dia amanheceu

tantos lugares que desejei passar
tantos toques que não pude dar
o pescoço
os cabelos
as mãos...

sei que já é tarde
já anoiteceu
a memória se faz bela
um café da manhã bem servido
um desjejum de lábios
o que quer o poeta?
se não inspiração?
um bom dia
um bom abraço
mordidas e arranhões

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