perdi o conforto
a calmaria de um ventre
para ganhar a vida mundana
perdi o medo de chorar
a posição de quem só espera
para ganhar um pouco de leite
perdi meu poder de rei
quando tinha o mundo aos meus pés
para investir em outros objetos
perdi a leveza da ignorância
a inocência de não conhecer
para me aventurar no mundo do saber
perdi a calma perfeita
a mansidão das águas rasas
para explodir a fúria recalcada
perdi o sonho de felicidade
me amargurando em algumas angustias
para poder me sentir feliz novamente
perdi a rigidez
o apoio da razão inabalável
para me jogar nas incertezas
perdi a identidade
a forma de me ver
para experimentar outros eus
perdi a paciência
o otimismo de um futuro bom
para lutar neste presente
perdi o encanto nela
a cega paixão
para vê-la como uma simples mulher
perdi o compromisso
a obsessão pelo trabalho
para me dedicar ao ócio
perdi a censura
a vergonha de me expressar
para transformar a vida em versos
perdi a vida
uma constância de instantes
para passar para o outro lado
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