domingo, 31 de março de 2013

flor

quero lhe dizer linda flor
que ao te ver desabrochar
senti em mim
um pensamento latente despertar
como um gatilho de arma de fogo
um corpo estranho já vivido
explodiu no meu peito
colocando na superficie do meu ser
na minha surreal percepção
uma pequena noção de destorção
patética
hipotética?

quero lhe dizer linda flor
que quando lhe vi como demônio ensandecido
com aqueles cabelos compridos
a se agitar com o vento
naquela tarde quente de inverno
naquele suspiro desacordado
quando lhe vi
lhe fiz presente no mais longínquo pensamento
aquele que nem se fez pensar

quero que saiba pequenina flor
que aqueles espelhados óculos negros
carregados de controvérsas
de peripércias
ainda estão me interrogando
queria saber a verdade
a verdade escondida em seus olhos
aqueles que ainda terei nus
nus de toda espécie de disfarce

quero que saiba pequenina flor
que quando não houver distâncias
entre o que penso e o que faço
você saberá quem sou em cada gesto meu
saberá que é você quem habita todo meu pensar
que ainda estou preso naquele instante inicial
irreal

quero que saiba verdadeira flor
que ainda que se torne somente fragrancia
uma pequena lembrança cega
ainda lhe desejarei com todo a certeza
certeza de que aquele valor representativo
está mais forte que teoria comprovada
mais forte que convicções mundanas

você linda pequenina verdadeira flor
habitará para sembre meus traços de lembrança
mesmo que eu nem mesmo lembre meu nome
mesmo que esqueça quem sou
haverá em minha alma
algo tão seu
que nem ao menos conseguirei me separar
daquilo que não saberei descrever
mas que sentirei
como um nascer de sol desejante
que ainda que se torne noite
ressurgirá como fênix
sem depender da vontade de qualquer força explicável

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